25 março 2012

Sobre o Grande Iceberg das Escolhas e Descobertas da Vida


Esses dias estive a pensar no caminho que fiz para chegar até aqui. As várias situações por que passei, as inúmeras vezes que mudei de opinião, de todas as vezes que julguei minhas verdades como absolutas, claras como cristal para, num virar de ano, meses ou dias, mais uma vez mudar de opinião. Para mim está claro que cada um desses rompantes contribuiu para o que me tornei e os rompantes que virão ainda me levarão por caminhos que agora desconheço, mas que mais dia ou menos dia me tornarei tão íntima quanto já sou dos dias passados.

E pensando mais afundo nessa volubilidade natural, cheguei a uma conclusão...: o nosso Sistema de Ensino TÁ ERRADO! Siim, esse negócio de estudar uma vida inteira (entenda-se ensino fundamental e médio), pra depois em um ano - o último ano da escola - decidir assim, sem mais nem menos o que será - pelo menos teoricamente - a sua profissão pelo resto de sua vida está sendo feito de maneira errada.

Quando eu tinha uns quatro ou cinco anos (deve ter sido nessa época), eu me lembro que eu queria ser professora. Sempre fez parte dos meus brinquedos aquele quadro verde e várias caixas de giz colorido. Eu me recordo dos meus ursinhos espalhados pelo chão, cada um com um livro ou caderno em sua frente e eu, claro, comandando o quadro verde - eu nunca vi um quadro negro, você já?

Eu me lembro também do meu pai, professor por profissão reclamando do que fazia e dizendo a mim esperançoso: " Que você não seja professora..." ou coisa do tipo. Lembro-me também que lá pela 2ª ou 3ª série eu gostava de desenhar casas na última folha do caderno, e então, depois de desenhada a casa,  a árvore a seu lado, a cerquinha e a grama, eu virava a folha ao contrário, e utilizando os contornos da casa, eu começava a desenhar o interior dela. Quando viram isso, me disseram que eu seria arquiteta!

Na quarta série, o fascínio mudou. Ao invés de casa, passei a desenhar vestidos! Vestidos e mais vestidos... Dizia eu que aquela seria minha coleção... Que coisa, rsrsrs. No ano seguinte comecei a ler, e me lembro como se fosse ontem quando li "Os vinte e um balões" de William Pène du Bois, o "maior livro - em quantidade de páginas - que já li em toda minha vida", pensei eu, Cento e Cinquenta e Uma páginas...! Quando, eu me perguntava, quando eu seria capaz de ler tantas páginas assim? É claro que vieram quantidades maiores que isso depois, mas isso ficou marcado como o primeiro Grande livro que li... Depois disso desabrochou o gosto pela leitura e posteriormente, pela escrita. 

Eu possuí um livro censurado por mim mesma, chamado "O diário", que ao definir que nunca o publicaria joguei fora, e tenho um que escrevi e mostrei para alguns amigos quando terminei. Meus leitores mais ávidos - uma ou duas pessoas - ainda esperam a continuação do meu best-seller que prometi ser uma trilogia. A boa notícia é que tenho em mente o que acontecerá nos dois últimos volumes, mas não estou com pressa em escrever. ;)

Além de tudo isso houve a música, que me acompanha desde os onze anos de idade, e houve os computadores na época da faculdade. Nossa relação é estranha (com os computadores), as vezes eu os amo, mas as vezes os odeio do fundo do meu ser; e odeio mais ainda as cobranças que me faço a seu respeito aqui e acolá.

Todo esse relato (que provavelmente não vem ao acaso) quer mostrar que todos nós temos várias facetas. Que num só corpo somos vários ao mesmo tempo, e que decidir quem nós seremos por boa parte de nossas vidas apenas por causa de um nome chamado Vestibular é muita falta de consideração de nós mesmos.

Esses dias, eu que fui tão caxias no tempo da escola, que acreditava que deveria ingressar numa faculdade  a todo custo quando terminasse o ensino médio, que acreditava que quanto mais nova melhor, que isso era sinal de inteligência, percebi que estava errada. Que não devia ter feito isso, ou melhor, que deveria possuir a cabeça que tenho hoje - depois de formada e de ter praticamente 23 anos nas costas - para começar a tomar qualquer decisão considerada importante para o futuro de minha  vida.

E mesmo depois dessa idade e dessa suposta experiência, sei que ainda serei capaz de muitas burradas pela frente, muitos tropeços e pontos de vista errados pra começar a acertar alguma coisa. O peso que a sociedade tem depositado nos jovens a meu ver é alto demais. Aos 17 ainda somos crianças, ainda estamos a descobrir apenas uma pequena ponta desse Grande Iceberg das Escolhas e Descobertas da Vida. E tomar uma decisão dessa magnitude de forma precipitada, pode não ser o melhor negócio que fazemos.

Existe tanto a ser visto, vivido e concluído. Existe tanto que se aprender e não apenas numa sala de aula, existem tantas coisas que precisamos descobrir - por nós mesmos, e não pelo que diz no Google -, existe tanto a viver... Eu não sei se disse asneira demais pra um post só, mas acho que consegui chegar onde queria (depois de várias tentativas infrutíferas de escrita), que é isso: antes de saber o que queremos "ser", precisamos saber - a fundo - o que já somos e o que é importante para nós. 

Aparentemente algumas pessoas nasceram com o dom de saber desde cedo o que querem/queriam fazer da vida delas. Parabéns! Cada um possui a vida que lhe foi dada e lhe cabe fazer dela o melhor possível. Mas existem pessoas cuja realidade não parece ser tão simples assim, elas precisam de tempo, elas precisam de espaço. Está certo que ninguém é obrigado a fazer vestibular quando terminam a escola, mas a maioria acha que sim; e é isso o que me preocupa. É essa idéia de caminho perfeito que me desagrada, porque.... não existem caminhos perfeitos. 

O que vejo hoje é o seguinte: um monte de colegas, amigos, conhecidos, ou amigo do amigo do amigo que terminou a faculdade mais perdido do que entrou. Gente que achou que o curso superior era a solução dos problemas, mas que acabou descobrindo que isso é só o começo do “problema”. Gente como eu, que acha que ter dado um tempo para se conhecer melhor antes de tomar uma decisão dessas teria sido a melhor escolha...


Falei, e falei demais. Agora eu queria ouvir vocês. O que acham de tudo isso? Você que fez faculdade, que se formou e que já atua ou não, o que acha de tudo isso? E você que já está na faculdade, ou que está pelejando para entrar nela, qual sua opinião?  E você que já passou por tudo isso e ri de mim com minhas infantis preocupações, o que me diz?

Espero feedback!

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  Vingança 
Felipe Basso


De quem você foge, amanhã irá procurar.
Quem você julga, amanhã irá julgar.
Quem você odeia, com certeza irá amar.
Se hoje me chama de louco,
Amanhã me seguirá.

14 comentários:

  1. Viiii.... eu queria ter o dom de passar mais adiante este lado meu sempre cheio de esperança. Quem sabe um dia eu vou poder fazer esta magica alcançar mais e mais pessoas carente de um dia de otimismo.

    Adorei lhe rever. Voltarei masi tarde para ler com calma o que voce tem de novidades.

    Beijos

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  2. E isso não acabou com sua vida, né? Cada vez me convenço mais disso... Dar tempo ao tempo não faz mal a ninguém!

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  3. Oii. Nosso blog está de volta. Mais sincero e apimentado do que nunca. Te espero lá.

    Beijinhos, Nane.

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  4. Viii, eu já mudei de opinião tambem, não muitas vezes, talvez porque penso demais e queimo meus miolos! Aprender com os erros é necessário, especialmente quando reconhecemos!

    Quanto aos anos de estudantes... Viiii amiga.... eu era aluna nota 10 que nunca ficou para uma prova final. Foi assim a vida toda e anos depois fiquei me perguntando "pra que serviu?"

    Sabe, eu nunca tive um Q.I. para me empurrar para O Emprego com Aquele Salario! Foi sempre ralação e privações.

    Chegar no ultimo ano, inclusive, e ter certeza absoluta que quer ser isso ou aquilo, nem todos acertam. Pois os anos a frente vão sinalizar se fizemos ou não a escolha ideal.

    Eu sempre soube que gostaria de ser medica, infelizmente não tinha nenhuma condição financeira de arcar. Bem, na minha epoca foi muito complicado, nao sei hoje se dá para estudar sem as mesmas condições financeiras ideiais. Então fiz outra coisa, gostei muito, mas... por falta de Q.I.... estou por aí... sobrevivendo honestamente, mas não 100& satisfeita.

    BEIJOS

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  5. A dúvida sempre está presente mesmo quando temos certeza...rsrs De fato nada nos parece seguro o bastante... as escolhas a serem feitas, o medo de errar, a grande interrogação que é que caminho tomar. O sistema não nos dá base para acreditarmos que a nossas escolhas são fiéis aos nossos desejos, ou por vezes nem mesmo temos o direito da escolha, apenas temos um caminho a seguir, mas somos obrigados a optar ou seguir, ou a seguir optando. Então Viii, o que tenho a lhe dizer é que não há o caminho certo. Por vezes erramos, outras não temos escolha, o importante é não sair do caminho e ladrilhá-lo da melhor forma que pudermos, assim, a volta se necessária será fácil e a experiência do ladrilho já colocado nos fará cada vez mais capazes de contruir um caminho melhor e fazer boas escolhas. =)

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  6. Amiga, eu tive a sorte de escolher um curso pelo qual fui e sou apaixonada. Mas as dúvidas, sem dúvida, me perseguiram, mesmo não em relação a essa escolha. Essa pré-definição de que rumo devemos tomar nos faz sentir pressionados e a atropelar as coisas, o tempo... A sociedade pressiona, exige... "estudar, fazer vestibular, curso superior, trabalhar, casar, ter filhos, investir em concurso público, construir casas, multiplicar o patrimônio e aposentar"... Nos resta saber se é isso que queremos e se é isso que nos faz feliz!

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  7. Viii, mais uma vez parabéns pelo post. Faço das suas palavras as minhas, mudando apenas as possíveis profissões escolhidas enquanto percorria o período da infância. No meu caso era médico, piloto (primeiro de carro, depois de avião...rs), advogado, etc...

    Bom, então vamos ao feedback...rsrs

    Realmente essa situação descrita por você é algo que deveria ter mais atenção por parte dos líderes da nossa sociedade, e nossa também. Mas como mudar a cultura de uma sociedade inteira? Claro que ações independentes são melhor que nada, mas seria uma medida a loooongo prazo. Seria tão bom se a Rede Globo abraçasse essa causa e mudasse um pouco o foco das situações sociais retratadas em suas previsíveis novelas, rsrsrs. Mas já que BBB gera uma receita maior e a banalização da homossexualidade dá mais ibope para a emissora, melhor não gerarmos expectativa.

    Em Brasília (me desculpe se estou equivocado, minha observação foi muito superficial sobre a localidade) um jovem que acaba de desembarcar do ensino médio, geralmente, está mais preocupado em ser aprovado em um concurso público a um vestibular. Claro que fatores políticos, sociais, econômicos e estruturais, como uma concentração maior de instituições públicas (e consequentemente maior disposição de vagas) são bastante relevantes para a formação e manutenção dessa cultura. Imagino que deve ser legal fazer um curso superior com um emprego estável (depois de certo tempo) e, provavelmente, uma maior visão do mundo proporcionado por uma vida trabalhista ativa. Não que isso tenha que virar regra, se você já tem um sonho definido claro que quanto mais cedo se profissionalizar melhor.

    Também fiz uma graduação na área da computação por uma decisão tomada assim que terminei o ensino médio. Depois fiquei meio perdido, tentei gostar do curso, conclui-lo, mas a verdade é que hoje estou praticamente na mesma situação em que me encontrava antes da faculdade: indeciso. Não sei se prestou outro vestibular e vou pra outra área, se insisto nessa e invisto em uma especialização (ou até mesmo um mestrado) ou se vou parto para outro curso superior e tento unir o conhecimento dos dois. Seria isso uma indecisão 2.0? Um upgrade? Seja como for, a questão é: Hoje tenho 23 anos, um título de bacharel e uma grande dúvida do que fazer.

    Em suma, é um paradigma que deve sofrer algumas mudanças.

    Abraços!

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  8. Viiiii....

    Faça desta páscoa, a tua páscoa. Faça desta ressurreição, tua ressurreição. Nunca se entregue, pois é somente a cada adversidade que poderemos vislumbrar uma nova oportunidade. (Ivan Teorilang)

    Beijos

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  9. Concordo... acho que você ter que escolher o que quer fazer para o resto da vida tão cedo é muita responsabilidade.

    Ao mesmo tempo, no mundo em que a gente vive hoje, cada vez mais é preciso correr contra o tempo para se firmar e poder sobreviver sozinho, enquanto nossos pais existem para nos dar suporte, porque se deixássemos para decidir muito tempo depois... até que nos qualificássemos, que acumulássemos experiência... não teríamos como sobreviver.

    Também acho muita "falácia" isso de TER que escolher como profissão a PAIXÃO da sua vida. Acho que precisamos ser racionais. Temos que ter como profissão o que possa nos sustentar (claro que não dá pra ser algo odioso). Se aquilo for sua paixão, ótimo... Se não, podemos sempre ter um hobby, né?!

    Comida na mesa é mais importante.

    p.s.: voltei! :D :*

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  10. Oi Sissym!
    Eu entendo o seu ponto de vista, e comigo aconteceu mais ou menos a mesma coisa. Entendo que as vezes não se pode ter tudo e abrir mão de algumas coisas as vezes se faz necessário. Mas algo me chamou a atenção, vc disse que a outra coisa que escolheu, você gostou! Não é o ideal, ou não se encontra nas condições ideais, mas vc consegue conviver com isso, né?
    Mas e quando a gente não sabe o que escolher? Viver naquela eterna encruzilhad?

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  11. Ahh, Jú! QUe comentário mais lindo!! Você tá certinha, é isso daí mesmo. O ruim é só que na prática não é assim, fácil, né? Vc sabe.. Bjs

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  12. Oh, Hugo.. Eu também estou nessa de não saber se caso ou se compro uma bicicleta. Eu acho que entendo como ninguém o que vc está passando , e justamente disso surgiu esse post.

    A questão financeira pesa bastante, ainda mais para nós no auge dos nossos 23. Ambos fizemos faculdade particular e sabemos o quanto foi investido, então, ao mesmo tempo que pesa no coração a ideia de passar a vida toda fazendo aquilo que aprendemos na faculdade, é quase uma ofensa pensar em buscar outro caminho. Dinheiro não nasce em árvore, o investimento numa faculdade não foi pouco.

    Claro que qualquer coisa nova que aprendamos vale mais que ouro, mas simplesmente engavetar esse conhecimento e seguir como se nada tivesse acontecido é complicado, e daí voltamos àquele ponto: o de que talvez se tivessemos nos dado mais tempo de pensar, e escolher melhor não estaríamos passando por isso.

    Mas por mais que seja complicado de fazer do que falar... Agora que temos os ovos, o mais sensato é tentar transformá-los numa omelete. E que que ela seja digestível!

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  13. Jú, concordo com você. Sobre a "paixão da vida".. paixões são passageiras, né? Mas qndo falo de paixão, tento me referir a algo assim, como você diz, "não odioso". É só porque acontece bastante de nos enganarmos. Olhamos para algo e criamos um conceito sobre aquilo. E quando, ao chegar lá, observamos que aquilo não é nada do que imaginávamos, passa a ser decepcionante. E claro, a decepção vai aumentado até que se transforma em outra coisa.Essa outra coisa, a frustração, é que não é saudável.
    Bjos

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