29 julho 2022

Autossabotagem ninja

 Hoje teve terapia. 

E houve um negócio interessante, que valeu vir transcrever a nota antes que ela se perca nos milhares de devaneios que vem e vão por essa cabeça desajustada…

Em certa altura da conversa comentei que estava “enferma”. Não foi esse o termo, no entanto não me lembro agora o que foi usado, mas foi nesse sentido. O ponto em questão era dizer que me sinto quebrada, desmantelada. Estou sensível, sinto de forma constante não possuir mais qualquer controle sobre minhas emoções, qualquer coisa é motivo para eu me debulhar em lágrimas e é desesperador não conseguir controlar isso. É estranho olhar pra trás e ver que há algum tempo eu conseguia administrar isso de tal forma que era possível pegar as merdas que aconteciam e só jogá-las para debaixo do tapete - e “vida que segue”. Esse sempre foi meu modus operandi… E agora não. 🫣

Psicanálise é um negócio interessante porque quando você diz as coisas em voz alta, parece que ela toma novos significados. 

E justo quando eu disse isso, sobre não conseguir mais jogar as coisas para debaixo do tapete (!!!), ela lindamente alertou que lá há quase dois anos atrás, quando começamos a trabalhar juntas, minha queixa era justamente estar cansada de ter sempre que jogar tudo para debaixo do tapete. 



E então ela me disse que que bom que eu não consigo mais levar as coisas para debaixo do tapete! 

Pode não parecer grande coisa. Mas isso me fez pensar sobre como (e quão frequentemente) nosso (in)consciente fica querendo nos levar de volta a lugares que nos são confortáveis e assim retroalimentar ciclos que muitas vezes não são nada saudáveis. Nem sei se é válido chamar esses lugares de zona de conforto porque confortáveis, efetivamente não são. Mas enxergar esses padrões, que de tão sutis a maior parte do tempo acreditamos fazerem parte da nossa natureza e essência, e transformá-los ou abandoná-los, é quase como pedir ao fumante para abandonar o cigarro ou ao alcoólatra a bebida. '-' 

É processo. Leva tempo. Tem autossabotagem... muita. Mas eu não imaginava que seria tão ninja assim.


24 julho 2022

Comunicação não violenta ficou onde ?

 "Como falar o que está no meu coração e ser compassivo com o outro ao mesmo tempo?" (frase do @institutocnvbrasil)

Eu vi essa postagem uns dias atrás e desde então essa frase começou a ecoar sem parar na minha cabeça. Porque de forma recorrente me vejo em/ou criando conflitos exatamente por não ter domínio dessa habilidade de fala.

Isso me levou a outro pensamento também. Que é: justamente quando mais preciso de acolhimento que me torno menos acolhedora. É como se a necessidade de cuidados naquele momento rompesse os limites dos bons cuidados com as outras pessoas e fazendo as vezes até que surja o desejo de machucar outrem. Como que uma compensação insana de não conseguir acolhida. Faz sentido?

A ideia desse texto já esteve repleta de muito desejo de machucar. Exatamente na contramão da frase que o inicia. Mas muito se perdeu, muito está adormecido… (inclusive, hoje enquanto chorava no banho pensava nessa habilidade (?) que tenho em esquecer temporariamente dos meus conflitos e ficar revezando entre eles. Dessa maneira, um ciclo se mantém retroalimentado, onde as aflições ficam em revezamento. Cada qual com sua vez, até que eu esqueça de uma temporariamente e dê lugar a outra. E assim vamos … 

Minha terapeuta diz que cada vez que retorno a esses lugares, retorno de uma forma diferente. Mas não sei se outras pessoas percebem dessa forma. Sei que para alguns deve ser algo do gênero: “isso de novo?”. 

Mas para além da máxima que venho repetindo bastante (“não consigo calar a minha boca”), é difícil para mim ter que ouvir passivamente algumas coisas. 

Eu tenho tido muitos gatilhos, tenho estado sob muito estresse e por diversas vezes tenho sentido que extrapolei repetidas vezes todos os meus limites e eu só não consigo mais. E mesmo não conseguindo, eu sigo tentando, porque eu não sei bem em que momento isso ficou gravado em meu cérebro, mas, parece que desistir não é uma possibilidade. Então mesmo quebrada eu tenho que continuar. 

E estando nesse estado, ouvir essas máximas “você tem que se controlar”, “você tem que ter paciência”, “você não pode ser assim”, “você tem que fazer um esforço”, “você não pode levar as coisas dessa maneira”… 

É o mesmo que levar um tapa na cara! 

Tentar me controlar, fazer esforços, ter paciência, tentar me encaixar, tentar fazer caber, tentar deixar o mais confortável possível para todo mundo, mesmo que isso me deixasse em situações desconfortáveis, foi só o que fiz a minha vida inteira. E sigo fazendo… de forma capenga, mas sigo. Então eu realmente não sei o que esperam de mim. 

Não sei o que esperar de mim. 

Quando ouço alguém, tento ter o cuidado de não repreender o ponto de vista do outro pq eu não sei o quanto lhe custa ouvir aquilo. Ex.: alguém tá na merda e vc chega e diz: “não fica assim”. Pra mim isso é meio que negar ao outro o “direito” de sentir-se chateado. E são processos que precisamos passar as vezes… “Você precisa ter paciência…” Poxa, você acha que eu não sei disso?  Entende? 

As vezes não precisamos que nos lembrem do óbvio. Nem sei pq estou escrevendo isso. Nem era o objetivo inicial do texto. 

Mas talvez, 

Talvez seja melhor eu tentar ficar calada.

Só isso mesmo.