16 agosto 2010

Um post mal humorado




Se 2009 foi um ano de lamentações, de muito chorar e amolar as pessoas à minha volta com minhas angústias, 2010 tem sido um ano não apenas de renovação, mas também de repensar toda minha vida. Dia desses fui à pizzaria cuja dona me viu nascer e que tem um filho de mesma idade, inteligentíssimo por sinal e faz alguma engenharia na USP.
Então ela me disse: “Vivi, você quando se formar deve ir embora daqui como o meu filho fez. Vá fazer uma pós (graduação) ou um mestrado na mesma faculdade que ele, eu sei que se você estudar muito você consegue. Ficar aqui não te levará pra frente. As pessoas não dão o valor necessário à sua profissão aqui...”.
Claro que dei razão a ela, tudo o que ela me disse é bastante óbvio pra alguém que busca realização profissional e financeira e etc. Mas acho que de fato não me importo tanto assim com isso, e para explicar o porquê darei outro exemplo.
Numa outra ocasião, estava eu e minha mãe a conversar e ela começou a comentar de uma moça que fez – imagine só – a Alfabetização comigo! Ela aos 14 ou 15 anos se não me engano, envolveu-se com um homem mais velho e largou os estudos, se rebelou contra os pais (toda aquela novela mexicana) até conseguir se casar com ele. E ela finalizou dizendo: “Coitadinha, ela acabou com a vida dela!”, disse isso com certo orgulho provavelmente com aquela sensação de minha-filha-é-exatamente-o-oposto.
Mais uma vez por conveniência concordei. Porém cada vez mais tenho discordado das pessoas que partilham dessa opinião. De um tempo pra cá, para a maioria das pessoas é isso que basicamente tem importado. Dinheiro, dinheiro, mate-se de tanto trabalhar, dê adeus à sua vida estudando como um louco; acabe com a sua saúde física e mental, tenha uma estafa, deixe de lado a vida ao ar livre, crie raízes na frente do computador, deixe de estar ao lado de quem você ama, torne-se um sedentário, vire anti-social, viva para estudar e passar num concurso federal, pois só assim você poderá fazer de conta que trabalha ganhando uma boa grana no fim do mês, e por aí vai.
Todos têm apostado suas fichas nisso: riqueza, mas me questiono se todo o esforço vale à pena. Eu não quero ser rica, eu não nunca fui; não preciso disso. Tudo tem girado em torno de tal e que benefício temos tido em troca? O aumento dos casos de doenças psicológicas como o estresse e a depressão? E o que falar do número crescente de pessoas que sofrem infartos, AVCs, distúrbios e etc?
O duro é que esta postura tem se instalado na mente das pessoas, estão esquecendo-se do essencial. É só olhar para o passado, há tempos atrás não tínhamos metade das facilidades de hoje, mas as pessoas tinham uma qualidade de vida muito melhor, não morriam de fome, não precisavam viver em função do trabalho para ter alguns momentos de lazer, sabiam dar valor as coisas simples.
Atualmente isso é que tem me importado. Tenho percebido que os momentos mais felizes da minha vida são aqueles não planejados, aqueles em que não preciso de dinheiro ou um livro debaixo do braço pra estudar.  Sim, correr atrás de um futuro melhor é importante, é necessário. Mas acredito que não devemos abrir mão desses momentos tão preciosos que a vida nos proporciona de graça. E também acho que não há uma receita. Cada um tem que correr atrás daquilo que acredita e não devemos diminuir isso.
Aquela moça que minha mãe chamou de coitada, eu não tenho essa opinião sobre ela. Quando ouço histórias desse tipo procuro ver a pessoa corajosa que existe ali, que não deu ouvidos ao que os outros achavam ser o melhor para ela. Ela seguiu seus instintos, seu coração e hoje em dia são pouquíssimas as pessoas que assumem esse risco, ir atrás do que se quer realmente sem se deixar amedrontar pelos riscos que esse caminho traz.
Na realidade, qualquer caminho escolhido acarreta riscos, mas hoje há essa tendência de diminuir os sentimentos alheios, de colocar o dinheiro, a vida profissional e acadêmica na frente da felicidade pessoal. As pessoas tem se esquecido de que quando estamos satisfeitos conosco, ou com situações à nossa volta temos mais ânimo pra trabalhar, estudar, enfim... E o resultado é muito melhor.
Isso é que tenho me proposto atualmente. E sugiro cada um fazer o mesmo (uma auto-avaliação), verificar o que realmente importa para você, e não o que terceiros dizem ser o melhor. É claro que não estamos sozinhos nesse mundo, não somos auto-suficientes e precisamos sim ouvir opiniões, sugestões, mas no final das contas a Vida é sua e só você é responsável por ela, só você é quem irá vivê-la. Pense nisso, pense nas sementes que tem plantado hoje. Veja se essas sementes lhe trarão frutos satisfatórios ou não. Porque chegará o dia em que não será possível fazer mais nada, apenas contemplar todas as escolhas feitas, seja elas certas ou erradas.