31/12/13
Não foi exatamente sobre isso que imaginei o último post do ano; na realidade eu tenho aqui na ponta da língua uns dois ou três assuntos que gostaria de já ter postado, mas a preguiça tem me impedido. Me conforta a suposição de que não faltará oportunidade para tratá-los posteriormente.
O assunto de hoje é algo que tem me incomodado de uns dias ou meses para cá. Acho que nessa simples palavra posso resumir toda a angústia que com a qual tenho tido que lidar. Não sei até que ponto isso é positivo ou não. Saudável ou não. Não sei se você acredita ou não, ou se eu simplesmente tenho supervalorizado tudo isso.
Tal como nos filmes de super heróis, acredito que hajam controvérsias a respeito da autenticidade dos pressentimentos. Alguns dizem que isso é fato, outros dão de ombros e simplificam apenas reduzindo à palavra superstição. Já ouvi várias vezes pessoas me recriminando, dizendo que isso é besteira, que eu, minha mãe, tia e avó supervalorizamos tudo isso. Mas quem não carrega esse 'fardo', não sabe o quão angustiante isso pode ser.
Minha mãe sempre me contou do olho esquerdo dela. Me contou de como quando esse tal olho tremia, algo ruim estava acontecendo ou por acontecer. Lembro-me de como ela ficava angustiada com aquilo, porque a única informação de que dispunha era essa: algo ruim estava prestes a acontecer.
De começo, eu sempre dei de ombros. Não acreditava nem desacreditava; deixava estar. Eu dizia a mim mesma que supervalorizar aquilo era dar razão ao medo e isso não era algo saudável.
Acontece que de alguns meses para cá, esses mesmos sinais, essa mesma herança de família tem se colocado sobre mim. E não sei dizer ao certo quando foi que me deixei desesperar por causa desse tipo de coisa.
O fato é que, sabe quando você se vê cansado? Amedrontado? Como se você tivesse assumido o papel da pessoa forte por muito tempo e de repente você não consegue mais agir daquele modo? Tá certo que seria sobre humano 'resistir' friamente a todas as desventuras que volta e meia nos acontecem. Mas sabe quando você se torna sensível além da conta?
Nas últimas semanas aconteceram algumas coisinhas pequenas. Coisinhas perfeitamente resolvíveis. Mas olho para trás e fico encabulada como fiquei des-con-tro-la-da diante dessas situações. Cadê meu auto-controle? Cadê a frieza necessária para lidar com as adversidades que tanto tenho me esforçado para cultivar?
Converso com minha mãe e ela diz que tenho estado sobre muita pressão, que é muita coisa sobre mim agora, mas embora eu me sinta assim a maior parte do tempo, penso que não deveria ser assim. Poxa vida, a gente cai e se levanta o tempo todo. Ninguém nunca morreu por conta de adversidades ou períodos não tão ideais. Por que é então que quando se apresentam esses tipos de momento é como se nenhum pensamento racional fosse levado em conta na hora do desespero?
Em 2005, era um final de semana de abril e meus dois olhos tremiam freneticamente, de um jeito que já estava a incomodar. Eu nunca liguei aquilo à algo ruim prestes a acontecer. Mas assim que a semana entrou, meu avô sofreu um infarto e não fosse o socorro imediato ele não teria resistido.
Ano passado mais uma vez estava eu incomodada com os olhinhos a tremer. Também dei de ombros. Numa madrugada de domingo para segunda o telefone tocou. Minha prima de trinta e poucos anos, saudável, com duas filhas lindas... simplesmente teve um ataque cardíaco fulminante.
Esse ano, agora no final de novembro, início de dezembro, tive um dia daqueles que teria sido melhor ter ficado na cama, dormido até mais tarde, faltado o trabalho ou qualquer coisa do gênero. Eu devia ter me aquietado quando ele tremeu.
Três dias depois, assim, também sem aviso prévio meu avô se foi para sempre. Eu me lembro da ligação de meu pai avisando, foi bem na hora que eu estava saindo do trabalho. Naquele dia haveria uma confraternização, por isso todos estávamos encerrando o expediente meia hora mais cedo.
Lembro-me que combinei com um colega de trabalho para ele levar o presente do meu amigo secreto visto que eu não poderia comparecer... Cheguei em casa, concluí os diários que eu deveria enviar ao meu coordenador. Nessa altura o telefone já tocava incessantemente. Eu não atendia porque sabia da notícia que queriam me dar. Concluí todas as minhas pendências (como quem diz: agora posso entrar de luto em paz), fiz um lanche (a noite seria longa) e só então fui para a casa de minha avó dar assistência à família.
Hoje eu me pergunto: será que não chorei o suficiente naqueles dias? Será que meu discurso de "Morte é algo natural e certo para todas as pessoas" funcionou só na teoria e olhando pelo lado prático não valeu de nada como mecanismo de consolo?
O título desse post é 'Pressentimentos'. Meu olho (in)feliz tem dado sinais há alguns dias. Sei que não deveria dar importância a isso visto que nunca sei do que se trata nem a quem se direciona. Preocupar-se nesse sentido é inútil. Mas sabe quando vem aquele aperto, aquela angústia?
Sabe quando você não sabe se vai aguentar outro tapa da vida dessa natureza? Sabe quando você se sente apenas cansado e busca por tudo maneiras de desviar sua atenção desses sinais?
Não vou dizer "Que o ano novo traga bons ventos". Fica claro para mim a cada dia que passa que o ano nunca será novo se não nos renovarmos. Então acho que rezo por isso desse momento em diante. Que se façam todas as mudanças necessárias, mas que sejam de dentro para fora. Sempre.
É de maneira angustiada e febril que escrevo o último post de 2013.
E a pergunta que eu deixo é simples: você acredita em pressentimentos? Como você lida com esses 'toques do além'? Como a gente desliga o botão do "sofrer com antecedência"?
Um 2014 iluminado a todos. ;)