08 outubro 2010

Invisível




Não querendo dar uma de pessoa que não tem mais nada a fazer nessa vida a não ser dar conta da vida dos outros, me considero uma pessoa observadora. E ao passar todos os dias pelo mesmo caminho para ir a o trabalho, sempre avistava um rapazinho na entrada de sua casa. Isso sempre me intrigava porque se eu passava no período matutino ele estava na soleira da porta, se eu passava no início da tarde ele continuava lá e passando no fim da tarde isso tornava a se repetir. Fiquei pensando se o menino freqüentava ou não a escola, pois nunca o via de uniforme nem nada, sempre na frente de casa, ora conversando com pessoas, ora apenas observando o movimento. Acontece que um dia desses eu o vi com o uniforme da APAE e  claro, fim de mistério!

Essa situação me fez pensar nesse ato comum a todos nós: a observação. Acho que a todo o momento isso acontece em nossas vidas, não é por mal, é resultado apenas da observação cotidiana e acabamos por conhecer desconhecidos. Eu achava que apenas eu era assim, que apenas eu tinha essa percepção para até definir comportamentos da pessoa observada. Mas acontece que há algum tempo atrás eu me vi no papel do observado. Fui procurar uma manicure com urgência e durante o tempo que estive no salão me surpreendi com a moça indicando a direção da casa onde eu morava há cerca de cinco anos atrás. Ela se lembrava de mim passando na frente de sua casa todas as semanas – período em que eu freqüentava aulas de piano e passava sempre pelo mesmo caminho para chegar à escola de música.

Foi uma sensação diferente, porque estamos acostumados com a nossa “onisciência”, aquilo de observar por observar e simplesmente saber (da vida dos outros). Mas se descobrir como a pessoa observada é bem diferente porque geralmente não nos julgamos como um alvo de observação alheia. Como disse isso não é feito por mal, ou com alguma má intenção, mas é no mínimo desconfortável. 

Isso me levou a imaginar quantas outras pessoas como aquela manicure existem por aí, que tem consciência da minha existência sem ao menos saber meu nome ou endereço e que fazem do meu rosto não “mais um na multidão”.  Isso é perfeitamente possível, tiro por mim que faço coleção de rostos que simplesmente chamaram a atenção e que se qualquer dia eu encontrar pelo caminho provavelmente não irei abordar, mas terei alguma referência na memória.  Não é meio bizarro?  Isso me lembra o “Grande Irmão”, livro de George Orwell que nunca li, mas que descreve uma sociedade onde todos são vigiados e tal...

Essa semana foi bem carregada de pequenos acidentes, machuquei o tornozelo, quase arranco uma unha, sem contar com um prego  que quase perfurou minha cabeça! Isso também foi estímulo para me fazer pensar a respeito dos maus observadores que existem por aí, enviando energias negativas que chegam a tal ponto de afetar nossa vida e nossa segurança. Fiquei a pensar se existe alguém que me odeia, sente inveja ou deseja-me algum mal. Não sei. Até porque se eu fosse outra pessoa, não me daria o trabalho de me desejar mal ou sentir inveja, não há muito que invejar em mim... 

Mas a questão não é essa, se a pessoa observa para o bem ou para o mal e sim sobre o quanto nos julgamos invisíveis para sociedade.  Quero saber de você, o quanto se julga invisível? Que sensações lhe vêm ao imaginar que alguém que você não direciona a mínima importância “te conhece”, lembra de você e você nada sabe desse cidadão?


 

7 comentários:

  1. Nossa, tem gente que nos observa e nem imaginamos! Tive a prova disso na época do colégio. Pessoas que sabiam aonde eu tinha ido e nem me conheciam. Enfim...

    Ah, eu acredito também em más energias emanadas pelas pessoas. O pior é que a pessoa não precisa ser um milionário ou pop star pra atrair despeito e inveja. A mínima coisa é motivo para as pessoas quererem mal as outras. é triste!

    Compra um pingente de pimenta (inveja) ou olho grego (mau olhado)
    :)
    bjos

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  2. muito bom o post vii!! =D
    é incrível olhar dessa forma, as vezes agente acha que ninguém nos nota, mas de alguma forma talvez nem tão significativa agente acaba fazendo parte da vida de outras pessoas, sem sentir!
    e aí é como vi em um seriado certa vez que as vezes vc pode fazer parte da história de alguem e nem saber!!
    Sobre as perguntas, acho que não me considero invisível, mas as vezes eu mesma tento ser!

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  3. É bem mais fácil dar conta da vida do outro do que da própria.

    O outro, no outro, facilita a fuga, da realidade.

    Boa reflexão!

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  4. Viii.... antes de mais nada quero te agradecer o belo comentário que deixou lá junto ao meu "Abraço". Comentários assim inspiram e é uma questão de justiça admitir quando a gente se sente estimulado, elogiado! Faz um bem danado!

    Isso que tu escreveu é assim mesmo. Eu já havia reparado. Tenho um vizinho que mal vejo e que um dia desses passou por mim no pátio do condomínio e disse um surpreendente: -Oi Daniel! rsrsrsr Eu não sabia o nome dele e continuo não sabendo; mas como foi que ele aprendeu meu nome é um mistério.
    Uma vez eu saí do apartamento e um casal de amigos foi me visitar... Tocaram, tocaram a campanhia e estavam desistindo quando a minha vizinha de porta deu a informação de que eu tinha saído a meia hora, todo arrumado e que provavelmente tinha ido para o trabalho. Soube que ela disse isso por que eles ligaram no meu celular e ( dando risadas ) começaram a pegar no meu pé insinuando que a minha vizinha de porta sabia de mim e me cuidava. Valeu pelas risadas.

    Agora no que você escreveu tem uma coisa que quero dizer. Essa de que alguém nos olha e pode olhar pelo lado negativo e nos mandar más vibrações eu sincera e respeitosamente desacredito.

    Ninguém passa energias más a ponto de prejudicar. Passam é mau humor, desespero, chatice. Aí sim... E às vezes dá pena. Mas tem como evitar isso. É só sair andando.

    E, mais uma vez, obrigado pelos teus comentários que, quando parecem, são mesmo muito inspiradores!

    Obrigado!

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  5. Viiiii!!!

    então... muito bacana sua constatação sobre a observação! e olha, isso eu tbm faço "faço coleção de rostos que simplesmente chamaram a atenção e que se qualquer dia eu encontrar pelo caminho provavelmente não irei abordar, mas terei alguma referência na memória."

    saudáveis e memoráveis que somos!

    obs. qto aos acontecimentos não bons... não os valorize! eles acontecem apenas pra gente ficar mais alerta com outras coisas!

    adoro-te!!

    bjo

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  6. Geralmente eu gravo bem fisionomias.
    Sou foda para isso, sem sacanagem.
    Eu sou a manicure que te reconheceu, com certeza.
    Tenho a cabeça de um elefante.
    Com nomes sou pééssima..mas com rostos..caraca..lembro de gente que estudou comigo no maternal! (tipo: long long time ago..não importa qts anos tenho agora)

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  7. Humm, que engraçado. Eu me acho uma péssima observadora. Na verdade faço parte dos alienados que andam pelas ruas. No caminho pro trabalho e faculdade estou sempre com meu fone de ouvido com a música no volume máximo. Fico "viajando" enquanto ando pela rua, isso já me rendeu vários 'roxos' pelo corpo por trombar nas pessoas e coisas no caminho.
    Quanto a ser observada, acho que as pessoas me olham quando eu trombo nelas, hehehe. Fora isso, acho um tanto quanto estranho... sei lá, nunca parei pra pensar nisso... ^^
    Bjos

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