Você já se sentiu como se estivesse parado no tempo, apenas marcando passo? Como se a vida estivesse apenas passando em sua frente? Você, mero expectador...? Já se sentiu assim?
Por algum tempo foi assim que me vi, mas ainda não sabia nomear essa angustia; era incapaz de distingui-la de mim mesma, provavelmente porque nos acostumamos facilmente com determinados estados de espírito e algo que deveria ser passageiro acaba fazendo parte de nossa natureza.
Mas felizmente Deus é grandioso, se compadece de nós, e as vezes se vê obrigado a interferir de estranhas formas para fazer com que nossos olhos vejam novamente. E foi isso o que aconteceu nesse mês de janeiro.. Após uma insônia incomum, eu decidi de ultima hora pegar um vôo para Brasília onde estava começando o CIVEBRA - Curso Internacional de Verão da Escola de Música de Brasília. São as coisas divinas que ocorrem em nossas vidas...Eu não podia ir e eu não queria ir! Mas havia algo me puxando para isso, impulsionando para que eu fosse... e fui.
No início não foi fácil. Ambiente diferente, pessoas muuuito diferentes, alojamentos com mais de quinze pessoas, condições não muito ideais, banheiros coletivos, horário de refeições como no serviço militar e por aí vai. O primeiro pensamento ao chegar na Escola de Música? "Onde raios eu estava com a cabeça quando resolvi parar aqui????????" Sim! Isso mesmo! Eu achei que não duraria uma semana, quem dirá os quase vinte dias que estavam programados.
Como era de se esperar eu me isolei, me submeti (como sempre) ao papel de expectadora, mal humorada expectadora. Mas mesmo pessoas 'anti-sociais' (como eu) num lugar assim passam a desenvolver com o passar dos dias uma certa melancolia, "Todos fazem amigos menos eu...", como se eu estivesse de fato me esforçando para algo do gênero. E além da melancolia, companheira de alguns anos quase, não desgrudava de mim a tal Preocupação, com tudo o que tinha deixado para trás, todos os pequenos problemas que dependiam de mim.. Espere, dependiam mesmo?
E foi assim que lá pelo quinto dia, depois de um telefonema para a família, depois de um não-conseguir-segurar-as-lágrimas que me encontraram pela primeira vez. Esse rapaz que agora não me recordo o nome me viu chorando e veio solidário até mim. Naquele dia conversamos um monte, eu falei um pouco sobre mim, e ele um pouco sobre si e naquele momento percebi como eu me lamentava demais e o quanto não estava me esforçando nem um pouquinho para mudar minha situação, para ser diferente, para consertar tudo o que me incomodava e estava ao meu alcance. Esse foi o primeiro anjo. E a ele devo toda mudança a partir de então...
Depois disso eu me deixei levar mais, divertir mais, me preocupar menos e acima de tudo aproveitar cada instante. É engraçado como de tempos em tempos acabamos por reaprender aquilo que teoricante já sabíamos, não? E eu brinquei de Stop! como se ainda fosse uma menina até de madrugada, fui comer pizza as duas da manhã, tomei ônibus errado, fiz novos amigos, fui para a aula de havaianas, comi o que não podia, gastei o que não devia... E nesse meio tempo, eis que surge o segundo anjo! Em forma de professor, ou deveria dizer Mestre? Em forma de gente humilde, feliz em compartilhar o tanto que sabe, feliz em responder perguntas fora do contexto, em se atrasar até mesmo para um vôo para dedicar atenção aos curiosos.
Esse anjo contou sua história de vida, disse a quem quisesse ouvir que não foi fácil, que houveram sacrifícios, que houveram DÚVIDAS, mas tudo foram degraus percorridos, cada um a seu tempo, cada um com seu desafio e cada um com sua recompensa. Essa pessoa certamente irá me influenciar pelo resto da vida... Ela também me presenteou com um dos mais belos presentes que se pode receber: palavras amigas!
Vieram outros anjos depois desses dois, cada um com seus méritos. Houve anjo bom de fala com direito a poesia, palavras amigas e algo mais, houve anjo cúmplice e repleto de compreensão, houve anjo prestativo, cheio de dicas e orientações e houve também o anjo-família que há muito me acompanha e fica sempre na torcida!
O curso terminou dia 21 e 22 amanheceu tímido, com carinha de 'Foi um belo sonho... Eu queria mais', com carinha de despedida, de lembranças lindas, de amigos ímpares, de novos sonhos e de muita vontade de fazer diferente de agora em diante.
A semana foi cheia. Muita coisa acontecendo simultaneamente, uma gama de novas informações, novas realidades para todos. O que eu achei que não iria nunca acontecer aconteceu, estou indo embora de minha cidade natal, estou deixando o único emprego que conheci até agora, emprego este que até então definiu quem sou. Cidade nova, casa nova, realidade nova.
Não é preciso ler o resumo no verso do livro para se ter ideia do que vem pela frente. Por hora tudo está empolgante; o novo quando não assusta nos enche de prazer. Mas tenho a consciência de que não será fácil esse começar de novo, tenho consciência de que não faço ideia do que vem pela frente. Sei que muitos sorrisos ainda irão se abrir, muitas lágrimas irão rolar, mas por hora necessito disso. Acho que todos precisamos aqui e acolá. Nos colocar à prova, testar nossas capacidades, aprender mais, aventurar-nos mais... Ser mais!
Há meses eu venho tentando postar algo interessante, algo bom de se ler, alguma nova lição. Mas o vazio me preenchia. Espero que este post sele uma nova fase do Dictum, sele uma nova etapa para todos nós. Hoje vejo que a maioria dos blogs que frequentava estão parados ou inconstantes. Eu não reclamo disso. Todos passamos por essas fases e é importante que vivenciemos isso.... Mas.... não há nada como RENASCER!!!
Beijos e bom resto de vida a todos!