Quando entrei para a faculdade eu deixei de assistir jornal. Não foi por questões de lerdeza, alienação ou coisa do tipo, era porque os horários eram mesmo imcompatíveis. No entanto, na medida que eu fui retomando o tempo para desperdiçar na frente da TV, vi que eu já não era mais a mesma, que não conseguia mais ficar muito tempo parada ali assistindo o que a Rede Globo resolvia me empurrar.
Cresceu também uma certa revolta quanto aos telejornais, que dia após dia noticiavam conflitos atrás de conflitos, 20, 40, 200 mortos e a coisa ficando banal. Eu já falei sobre isso em algum post no passado, sobre a banalidade das coisas, sobre as pessoas já não mais se surpreenderem com a proporção das tragédias e das desgraças que ocorrem a cada instante. Provavelmente amanhã irão anunciar algum outro bombardeio, na Síria, talvez. E quem sabe isso tenha acontecido no momento em que estou aqui, sentadinha dispondo sobre isso.
O fato é que o mês de janeiro quase todo fiquei na casa do papai. E o papai assiste jornal, e na casa do papai não tem TV por assinatura, portanto eu não tive muita saída. Naqueles dias não se falava em outra coisa, a não ser do conflito no Mali, na África. Segundo o que li na internet, "o norte do Mali começou a ser ocupado por radicais islâmicos em abril do
ano passado, quando o país africano sofreu um golpe de Estado. A
instabilidade política permitiu o avanço dos grupos extremistas e dos
tuaregues, fazendo com que o governo central não conseguisse controlar a
região"¹. Depois disso, houve um ataque a uma refinaria na Argélia capturada por extremistas islâmicos..."Os extremistas disseram ter agido em represália à intervenção militar
francesa no Mali"².
Enfim, provavelmente já aconteceram mais absurdos de lá para cá, mas eu deixei de acompanhar o noticiário novamente (felizmente ou não). Essa questão ficou marcada porque dias depois eu vi um filme sobre cavalo.
Eu não sou muito chegada em cavalos, sabe? É um bicho elegante e tudo o mais, porém é muito desconfortável! Eu simplesmente não entendo pessoas que trocam o conforto de um carro ou motocicleta por um cavalo. Mas o fato é que, por alguma razão, todos os filmes de cavalo que já vi me emocionaram -
Seabiscuit, Secretariat -, e agora, esse tal de "Cavalo de Guerra" do Spielberg.
É uma história fantástica, para dizer a verdade (no sentido de irreal ou surreal), mas ao mesmo tempo tem o toque especial emocional dos filmes de cavalo. A cena mais marcante do filme (que é o que faz ligação com o meu relato sobre o conflito no Mali, haha, acharam que eu tinha surtado, né?) acontece quando o cavalo, nosso protagonista, se encontra em meio ao fogo cruzado em plena Primeira Guerra Mundial. Lembra da "guerra de trincheiras" das aulas de história? Pois é, o coitadinho do Joey (o cavalo), começa correr adoidado em meio ao bombardeio e sai arrastando tudo o que há pela frente, ficando completamente imobilizado por metros e mais metros de arame farpado. Olha aqui a foto. î
Mas a questão não está centrada na má sorte do cavalo, mas da situação inusitada e até mesmo embaraçosa que se arma a seguir. Com pena do pobre animal, um soldado do lado inglês resolve ir até o bicho (que como eu disse está no meio do "campo de batalha" - entre a trincheira inglesa e a trincheira inimiga alemã) para resgatá-lo. Acontece que um soldado alemão também ficou comovido com a situação do animal.
Imagina a cena! Eu infelizmente não consegui encontrar essa imagem na internet, mas imaginem: você está em guerra, atirando no lado inimigo, jogando bomba e tudo o mais. Vai até o cavalo resgatá-lo e dá de cara com um cara que provavelmente estava atirando na sua direção também. Eles poderiam ter se matado ali, mas sabe o que acontece? Apesar de estarem em lados opostos na guerra, eles unem esforços para resgatar o animal.
É uma cena linda! Fantástica! Sublime! É um soco na cara da nossa sociedade. Deveria ser um soco na cara desses infelizes que estão por aí nesse mundo fazendo guerra, caçando conversa e sarna para se coçar, como o povo da Coreia do Norte que anunciou um dia desses a retomada aos testes nucleares. É uma cena que faz a gente pensar... que faz a gente ver que uma parcela de seres humanos está indo de mal a pior, pior do que bicho, porque bicho nenhum faz com seus semelhantes o que nós temos feito uns aos outros!
Eu procuro, eu juro que procuro algo que justifique toda essa matança, toda essa onda de injustiça, impunidade, banalidade e CHORO de tristeza porque eu sei que não vou encontrar justificativa. Não tem lógica! É de cortar o coração ver que em pleno século XXI ainda tenhamos que presenciar tamanhas barbáries, centenas de tragédias que poderiam ser evitadas; milhares de desalamados por aí fazendo maldade por prazer, política, poder, riqueza ou ainda pior, usando o nome de Deus.
O que eu pensei naquela hora do filme, foi em todos esses conflitos que aconteceram e tem acontecido. No que se tem perdido, valores, humanidade... Coisas que a meu ver valem muito mais do que tecnologias e mais tecnologias que tem tanta gente preocupada em aprimorar....
Onde foram parar o valor, o respeito e o amor à vida? Não só à nossa (vida), mas principalmente a do outro?
*Fonte das notícias transcritas no texto:
¹. http://www.jornalacidade.com.br
². http://www.ebc.com.br