29 abril 2022

A bolha

 O incômodo se encontra na sensação constante de desconfiança, de meias verdades. Eu sei que não tenho me mostrado a pessoa mais constante para se conversar civilizadamente, mas a mudança não foi sem razão. Será que ficou claro pra vc que naquele episódio lá atrás um elo de confiança se rompeu? Por mais que eu ame, por mais que eu perdoe, esquecer é algo diferente. Não é fingir que não aconteceu. E com isso vem sempre o assombro não apenas do “será que pode acontecer de novo” - apesar desse primeiro pensamento não poder me pertencer porque na prática você não me deve nenhuma satisfação, mas também o “o que mais é ocultado com princípios não tão distintos” - o que mais é ocultado justamente porque sabe que pode magoar. 


Porque por mais que doa, eu sempre preferi a verdade. Muitas foram as vezes que perguntei. E muitas também foram as vezes que não perguntei para não ser invasiva. Mas a intenção era demonstrar que eu estava disponível para ouvir e aceitar o que viesse, desde que fosse honesto. Mas como comecei. As meias verdades. Isso põe tudo abaixo. E me trazem a sensação de objetificação. A sensação de desvalorização. De escanteio. De um significado muito menor na sua vida. O que é uma droga porque eu escolhi te por em evidência em minha vida, te tornar especial. Tudo bem, sei que vc não pediu isso em hora alguma, isso também é da minha responsabilidade, mas pensa aí como é decepcionante você considerar alguém super especial e ver que em contrapartida você é só mais um na vida dele. Não é cobrança. É um relato honesto da sensação ruim. 


Tenho pedido de forma recorrente perdão a Deus por não ser um ser elevado ao ponto de dizer, do fundo do coração: “tudo bem. Eu amo e doo. E não careço de retorno porque o amor e a doação que tenho por ti me bastam.” Eu estaria mentindo se dissesse que é verdade. Em fato, as vezes eu até consigo “sustentar este papel” da autossuficiência. Mas quando me sinto frágil, quando me sinto só, quando sinto que preciso de abrigo, é pesado ter que curar-se das chagas de forma solitária. 

 

Continuando o raciocínio anterior: da decepção de ver que em contrapartida você é só mais um na vida dele… Percebo que é da minha responsabilidade a posição em que o coloquei em minha vida, e que da mesma forma, as outras pessoas são livres para me colocarem no lugar que acharem por bem em suas próprias estantes. Eu vejo isso. Compreendo. 

 

O fato é que ver e compreender não anulam o sentimento de dor por não ocupar outros lugares nessa prateleira. E isso se manifesta de formas explosivas.

 

É uma educação. Cada dia tento me ensinar, me fazer entender que eu nunca fiz parte nem nunca farei parte da sua vida. Que por mais que eu tenha desejado viver mil cenários diferentes com você, nesse mundo que é seu, foi algo que só foi desejado no meu coração e nos meus pensamentos. Pra você eu sempre serei “a bolha”. O que você pinta como uma lembrança doce, diante dos meus sonhos, ainda é um lembrete meio que cruel. 

 

Minhas emoções, na hora de se expressarem, tem sempre se misturado. Porque meus pensamentos tem pairado muito sobre em como as coisas são, como eu gostaria que fosse e ainda sobre coisas que eu fico debatendo comigo mesma se eu mereço ou não. 

 

É muito difícil para mim ainda fazer afirmações de merecimento. Porque parece que merecimento tá atrelado com desejo. E todos meus desejos tem um limite, que é a vontade dos outros. Então eu posso desejar algo? Como que eu faço isso sem ferir/interferir no livre arbítrio alheio? 

 

Aí eu lembro da bolha. Será que eu não mereço uma vida além bolha? Será que eu sou essa pessoa tão ruim assim, tão asquerosa e de difícil trato assim que nunca vivi nem viverei uma vida sem ser nas bolhas dos outros? 

 

Acho que é por essa sensação de ser sufocada (não propositalmente ou diretamente) por tudo/todos a meu redor, que acabo reagindo repetidamente como faço. 

 

Esse relato tem tom de justificativa. Mas mais que isso, sou eu traçando um trajeto de comportamento, que a maior parte do tempo passa desapercebido até mesmo por mim. Foram dias e dias refletindo e avaliando sobre os porquês por trás de cada reações. 

 

Não sei se isso é tudo. Mas é o que enxergo para o momento. Uma explicação para mim mesma. Porque quem eu gostaria que entendesse isso, nunca vai entender. 


0 comments:

Postar um comentário